Uma matéria da Folha desta sexta-feira (02/09) apontou algo realmente importante para a academia em geral, que pode e deve ser levado em consideração no caso da História.
O título é “Comunicação científica soa arrogante e não convence o público, diz especialista” e o autor se baseia em um artigo publicado no jornal britânico The Guardian que comenta os problemas da comunidade científica em se comunicar suas descobertas com o público geral. É um assunto que eu gosto de tratar, porque afeta diretamente historiadores e a produção na área de História. Desde o lançamento do livro 1808, do jornalista brasileiro Laurentino Gomes, é comum ouvir em eventos de História discussões e comentários sobre o fato de jornalistas venderem mais que historiadores ao escrever um livro de História.
De acordo com a matéria, quando cientistas apresentam ao público informações apoiadas por dados e gráficos, por exemplo, costumam ser interpretadas como “arrogantes e condenatórios”, principalmente se você estiver certo. O problema seria o fato de o discurso acadêmico científico não tenta integrar pessoas de fora da academia, e sim isolar os acadêmicos ainda mais, tornando-os exclusivos, detentores do conhecimento. Essa falta de interação entre os dois grupos faz com que o público geral não se sinta parte da produção do conhecimento – culpa dos pesquisadores e não da ciência em si.
No caso da História, o próprio vocabulário utilizado – e muitas vezes exigido – afasta o leitor comum, levando a produção acadêmica a limitar-se aos leitores acadêmicos. Não há troca de informações (conversa, discussão, aprendizado), o que é necessário para a valorização tanto do que é feito na academia quanto da participação do cidadão comum na pesquisa histórica.
Pensando nisso, Richard Grant (autor do artigo no Guardian) pergunta quem “está disposto a sair de sua bolha de conforto e fazer um esforço para alcançar as pessoas onde elas estão…?” e cita o projeto de uma física chamada Sabine Hossenfelder, que junta em uma sala um físico quântico e uma pessoa “normal”, que tem a oportunidade de compartilhar suas ideias e aprender um pouco sobre o mundo.
De repente a História deveria pensar uma forma de fazer exatamente isso: unir historiadores e pessoas interessadas em saber mais ou compartilhar ideias, hipóteses a serem exploradas e mais. De repente historiadores deveriam aprender com jornalistas ou outros profissionais que utilizam uma escrita que envolva leitores fora da academia, que seja compreensível e acessível a todos.
Voltando à pergunta de Grant: “está disposto a sair de sua bolha de conforto e fazer um esforço para alcançar as pessoas onde elas estão…?”